terça-feira, 10 de agosto de 2010

Festival Folclórico e o Teatro Guaira - Grande auditório



Transmissão (Som) do Festival Folclórico nos anos 1960, direto do Teatro Guaira, Grande Auditório ainda em construção.





Nos anos 1960 retransmitir o som fora dos estúdios da rádio ainda era uma aventura.


Principalmente para as Escolas Radiofônicas, o nosso único equipamento consistia de um enorme caixotão de cor verde que era um gravador valvulado da marca WEBSTER, pesado como ele só, e a Rádio não dispunha de transporte próprio, resultado, sobrava para mim e o Luís Ernesto carregar para lá e pra cá o tal gravador, e isso de ônibus e a pé. E com o gravador não dava para se fazer transmissão ao vivo, e o grande sucesso da época eram os Festivais Folclóricos, e o Luís Ernesto que adorava as aventuras radiofônicas, convenceu o Diretor da Rádio, Albino Affonso, Ir. Gilberto, que a Rádio poderia transmitir tal evento, Ir. Gilberto como nós o chamávamos antes da Rádio entrar no ar, tinha feito um curso de Técnico reparador, na Escola Monitor por correspondência não tinha nem idéia como transmitir tal evento. Aí entrou a criatividade do Luís Ernesto, que na época também trabalhava na Rádio Guairacá como sonoplasta.


O técnico Engenheiro Eletrônico que montou a nossa Rádio era o Senhor Werner Julio Riecks um grande entendido e nervoso com espessas e grandes sobrancelhas, calvo. Muito parecido com o cientista do filme “De Volta para o Futuro”, também era o técnico responsável da Rádio Guairacá, Luís convenceu o senhor Riecks a nos emprestar um Amplificador de Linha ainda valvulado de propriedade da Guairacá. Tal equipamento é que permitia a transmissão a distancia, usando a rede telefônica como meio de levar o som gerado no caso no Guairão até os nossos estúdios localizados no Prado Velho. Consistia em uma caixa com alça, parecia uma pequena maleta, na frente possuía um painel com entrada para 2 ou 3 microfones, tendo um controle de volume para cada um dos microfones, uma saída para se fazer a conexão com a linha telefônica diretamente em dois bornes. Um VU com escala em decibéis que era um micro amperímetro analógico que permitia ao operador saber o volume de som transmitido pela linha telefônica. Uma saída tipo jack para conectar um par de fone de ouvidos para o operador saber de fato se o som estava em ordem. E por último saía da caixa um fio elétrico com uma tomada na ponta. Era portátil, mas se não tivesse a disposição uma tomada elétrica, adeus portabilidade. Outra dificuldade era instalar pelo menos um microfone no palco sobre as cabeças dos folcloristas dançarinos, cantores e músicos. Se acontecesse nos dias de hoje seriam instalados uns 10 microfones no mínimo, mas nós fazíamos com apenas um e com um resultado final bom. Mas acontecia que a Rádio não dispunha de tanto cabo para microfone, foi necessário recorrer novamente a Rádio Guairacá. Como ainda a sala do grande auditório estava em obras, lembro bem, o público sentava-se em grandes bancos de madeira. E o piso do teatro era ainda só cimentado, o público batia os pés levantava aquela poeira!


Fizemos o pedido a Companhia telefônica para a colocação no Teatro de uma extensão telefônica, e pedimos para deixarem o par de fios bem próximo ao palco. Pois também não dispúnhamos de muito cabo telefônico para conectar ao tal Amplificador.


Chegávamos bem cedo ao teatro para poder montar e instalar os nossos equipamentos. Escolhemos um local na lateral do palco com uma parede para o público, E era bem alto o local, parecia que estávamos em um camarote. Improvisamos uma mesa com tábuas de tapume e duas cadeiras tipo de polaco, eu e o Luís dividindo um par de fone de ouvidos, eu controlando o microfone do Luís e o do palco. Nos estúdio da Rádio ficou um dos Irmãos Lassalista o Dionísio controlando o nível do som transmitido via linha telefônica e irradiado. E por incrível que pareça transmitimos eu e o Luís, 2 anos consecutivos o Festival Folclórico. Inclusive tirei algumas fotos, que ainda estou procurando nos meus guardados para aqui postar.
Comentário do Luís Ernesto em 12/08/2010:
Fizemos uma estória no Rádio que poucos tiveram a oportunidade de vivenciar.
Fomos produtores, operadores, apresentadores, aprendizes de música erudita (irmão Gilberto) e vivíamos num mundo de paz e felicidade incontida.
Fizemos com amor.....recebemos o mesmo carinho das pessoas que nos ouviam....e que me ouvem até hoje (não sei como agüentam)!!!!!!!!!
Valeu João. O único que nunca mais tive contato foi com Ernesto Arthur Berg
(lembra!!!!!!)
Abraços fraternos!!!!!!
Vc. continua sendo um geninho (do bem).

Agradecimento especial a pessoa que abraçou a nossa causa de transmitir esse evento, Senhor TELMO FARIA diretor artístico do Festival Folclórico!









domingo, 4 de julho de 2010

Artiur Moreira Lima pela primeira vez em Curitiba


Com 22 anos (nasceu no Rio de Janeiro, em 16/7/1940), Arthur Moreira Lima já era um dos mais promissores pianistas brasileiros. O então jovem Arthur foi o convidado para fazer o primeiro concerto para a Pró-Música, que tinha sido recém criada por um punhado de idealistas como: Aristides Severo Athayde, Clotilde Cravo, Henriqueta e Eduardo Garcez, padre José Penalva e mais alguns entusiastas.
Em 1962, antes do concerto em Curitiba, ganharia o terceiro lugar no III Concurso Internacional de Piano, no Rio, viajando então para a Rússia onde trabalharia por 3 anos no Conservatório de Moscou, como assistente do professor Rudolf Keres.
A apresentação em Curitiba foi realizada no auditório da Reitoria da UFP. Na data de 28 de maio de 1963. Cuja audição foi gravada pela Rádio das Escolas Radiofônicas sendo Luís Ernesto o apresentador e eu João Carlos o operador de som, ainda lembro das presenças de José Carlos Baraúna Araujo, locutor da Rádio Colégio Estadual e ator e Josil Caron dos Anjos que apresentava um programa semanal também na Rádio.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Escolas Radiofonicas de Curitiba - PR.

Este blog criado com a finalidade de não deixar cair no esquecimento fatos importantes da radiodifusão na Cidade de Curitiba, quando foi criada a Escola Radiofônica de Curitiba filiada a RENEC - Representação Nacional das Emissoras Católicas, que funcionava usando a mesma freqüência da já existente Rádio Emissora do Colégio Estadual do Paraná, sendo seu horário de funcionamento das 7:00 as 20:00 horas. E das 20:00 até as 23:00 horas era a programação da RECEP. Criada pelo convênio MEB - Movimento de Educação de Base, da Igreja Católica e mantida pelos Irmãos Lassalistas. sendo o Governo do Estado do Paraná o outro parceiro que concedeu o uso da mesma freqüência que a RECEP utilizava. Sendo que ambas emissoras não possuíam ainda prefixos homologados pelo governo federal. Sendo a inovação do ensino a distancia desvirtuado pelas mazelas políticas deste Brasil..
Éramos um punhado de jovens ainda estudantes do Colégio Bom Jesus com muitos ideais na cabeça, era um Brasil novo, como o slogan do Presidente Bossa Nova; "fazer 50 anos em 5 anos". Como colegas de classe tínhamos o Luís Ernesto e o Luís Strobel, Eu já sabia que o Luís Ernesto era operador de som da Rádio Guairacá, um belo dia o Luís Ernesto veio me convidar para conhecer uma nova emissora de Rádio, que iria provocar uma revolução no ensino, era uma tal de escola radiofônica, que pretendia erradicar o analfabetismo de todo o Brasil, na época o percentual de analfabetos era de cerca de 50% da população. Lá fomos eu e o Strobel, ficamos entusiasmados com o rádio, no inicio ficamos como aprendizes eu na Técnica e o Strobel na locução, a programação musical nos surpreendeu, quase que só de musica erudita, as aulas de alfabetização que vinham gravadas em discos 33 rpm do Projeto SIRENA com a rádio MEC no Rio de Janeiro em convênio com o MEB e aqui vai um palpite meu, se no lugar de música erudita a rádio tocasse a música preferida do povão analfabeto da época, certamente a nossa rádio alcançaria um lugar de destaque na audiência radiofônica da época. E por convicção do diretor Sr. Albino Affonso Ludwig, mais conhecido na época como Ir. Gilberto Hilário, não conseguimos alcançar a audiência de nosso público alvo. O ouvinte eclético ouvia a boa musica erudita, o analfabeto ouvia outras emissoras. Quando começavam as aulas radiofônicas nem um nem outro ouvinte nos ouvia...

GALERIA DE COLABORADORES E AMIGOS...

Luís Ernesto
Apresentador
Nascido em 29/11/1942 em Curitiba PR, É Radialista há mais de 50 anos. Já realizou trabalhos nas Rádios Curitibana; Cidade; Capital; Mais AM e Globo. E agora voltou como apresentador da Rádio Mais. E como bom filho que sempre a casa torna, voltou também para a Rádio Educativa do Paraná (AM 630), atual denominação da Rádio Educativa que por sua vez originou-se da RECEP.

Ir. Gilberto quando diretor da Rádio Escola de Curitiba.

Ir. Albino Affonso Ludwig ou Gilberto Hilário!

Luis Strobel, José Gernet Neto, Ir. Timóteo, Ir. Gilberto, Ir. Dionisio, Marcos Pereira e Luis Ernesto.

Rádio teatro ao vivo!

Luis Strobel

Elenco dos programas dominicais!

Em primeiro plano: João Carlos, segundo plano Irmão Timóteo!

Outro angulo da Técnica!

João Carlos, Luis Strobel, Luis Ernesto e ex-irmão Dionisio!


Detalhe da mesa de som.

Ex-Irmão Cláudio da ordem de La Salle!
Cláudio não era o seu nome civil.
Diariamente como também fazia o Irmão Dioniso preparava um enorme copo de vitamina de frutas também incluindo ovos com casca e tudo. Já era ecológico mesmo antes do surgimento do termo.
Salve ele!!!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Luis Ernesto lendo as notícias do dia.

Luis Ernesto redigindo o jornal falado!

Vereador Luis Ernesto na tribuna da Câmara Municipal de Curitiba!

Luis Ernesto e João Carlos na sala da técnica.

Dia de festa, aniversário do colega Mário que era colaborador da rádio.

Arquibancadas do Jóquei Clube do Paraná.

Na primeira janela térrea a direita ficava a sala da técnica da rádio; na segunda era o estúdio de locução; na terceira era o refeitório e por último detrás do galpão ficava a cozinha.

O ontem e o hoje!

 O Rádio de ontem é muito diferente do rádio de hoje. Isto falando da manipulação. Ontem era muito mais dificultoso fazer rádio; hoje é muito mais fácil, pois a informática facilitou e muito, em todos os setores do rádio.

A sede da Escola Radiofônica de Curitiba - PR. na época que funcionava.

Aqui era a sede da Escola Radiofônica de Curitiba - PR.

Escolas Radiofônicas de Curitiba - Rádio Emissora do Col. Estadual

MEB – Movimento de educação de Base


Relembrando: A criação e inauguração da RECEP - Escola Radiofônica é anterior a criação do MEB, Albino Affonso Lwduig na época denominado Irmão Gilberto ainda na década de 1950 foi a Sutatenza, Bogotá para realizar um estágio especifico de Radio-Escola, sendo uma, talvez a primeira pessoa no Brasil a entender o funcionamento da Rádio-Escola.


MEB – Movimento de educação de Base

Criado pela Igreja Católica, através da Conferência Nacional de Bispos do Brasil, no início de 1961, o MEB foi prestigiado pelo Governo Federal, reconhecendo sua criação por decretos da Presidência da República, e apoiado por vários convênios, particularmente com o Ministério da Educação e Cultura. No primeiro momento, seu objetivo principal era desenvolver um programa de educação de base por meio de escolas radiofônicas com recepção organizada, principalmente nas zonas rurais das áreas subdesenvolvidas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
A previsão inicial, para um programa de cinco anos (1961-65), era instalar 15.000 escolas radiofônicas, a partir das emissoras filiadas à RENEC — Representação Nacional das Emissoras Católicas. Objetivava-se também organizar, a partir das escolas, grupos e as próprias comunidades, tendo em vista "as indispensáveis reformas de base, como a da estrutura agrária" (MEB, Regimento, 1961).

Em termos bastante sucintos, o MEB era administrado e coordenado: a) Em nível nacional, por um Conselho Diretor, composto de 10 bispos e um representante do Ministério de Educação e Cultura; uma Diretoria Executiva, composta de dois bispos, respectivamente Presidente e Vice-Presidente do Conselho Diretor e de uma Secretária Executiva que encabeçava um Secretariado Nacional, composto por uma Equipe Técnica e por uma Equipe Administrativa; b) Em cada Estado, por uma Coordenação Estadual, configurada por uma Equipe estadual, quando a extensão do trabalho exigisse, ou formada por coordenadores dos diversos Sistemas Locais; e c) Em cada Sistema de Educação de Base, que abrangia uma área determinada — em geral correspondente à área geográfica da Diocese a que se vinculava — por uma Equipe Local.

Os Sistemas Locais, e sua maioria, eram sistemas radio educativos, constituídos a partir das emissoras católicas. Em algumas áreas, no entanto, por não contar com emissoras sistemáticas, a ação era integralmente desenvolvida através de contatos diretos com os grupos, usando como principal instrumento as "caravanas de cultura", contatos esses sistematizados, a partir de 1965, como "animação popular".

A base dessa estrutura era representada por uma rede de escolas radiofônicas, no caso dos sistemas radio educativos, ou por uma teia de grupos, no caso do sistema de educação de base, e não raro por uma composição dos dois sistemas. Entre as Equipes Locais e os grupos de base, em alguns Estados, foram formados Comitês Municipais de Coordenação, que chegaram a profissionalizar alguns monitores e líderes na tarefa de supervisores municipais e a constituir, em fins de 1963 e no início de 1964, mecanismos de participação efetiva das camadas populares envolvidas na programação das atividades e mesmo na sustentação do Movimento nos momentos de crise maior.

Em termos de funcionamento, os anos de 1961/62 compreenderam a montagem das diversas equipes e o deslanchar da ação, nos termos da proposta inicial, principalmente no Nordeste e no Centro-Oeste. Após esses dois anos de experiências, o MEB se redefiniu e se reorientou, no 1º Encontro Nacional de Coordenadores (Recife, dezembro 1962). Em decorrência de ampla revisão das ações realizadas e à luz de nova opção político-ideológica, o Movimento assumiu um novo conceito de educação de base; sistematizou os procedimentos relativos ao sistema radio educativo, planejando inclusive a elaboração de cartilhas e livros de leitura para adultos; planejou a ação junto aos grupos de base, principalmente através da assessoria à formação dos sindicatos rurais. Em decorrência, o ano de 1963 é um dos mais férteis e mais criativos, como se pode depreender dos relatórios e da análise do material produzido. Importante notar que, além do impulso dado pelo referido Encontro, nesse ano o MEB pode dispor, pela primeira e única vez, de recursos suficientes para a consolidação do trabalho iniciado e para a expansão em novas áreas, principalmente da Amazônia e em Minas Gerais.

A sistematização do modelo pedagógico, no que diz respeito ao sistema radio educativo e à formação de quadros, é feita basicamente em 1963. A animação popular amadurece um pouco mais tarde, quando se fazem sentir mais agudamente as limitações do sistema radio educativo e quando se supera a idéia da escola radiofônica como meio privilegiado de ação. Observa-se que as experiências básicas de animação popular — principalmente os "encontros" de Goiás, as caravanas de cultura" e os treinamentos de líderes rurais do Maranhão e do Rio Grande do Norte — já eram realizados desde 1963; os estudos de fundamentação, a fixação da metodologia e a sistematização das experiências aparecem, no entanto, no 1º Encontro Nacional de Animação Popular (Rio, junho 1965).

O ano de 1964, por sua vez, em vários aspectos, é o mais decisivo. Ao mesmo tempo em que a opção político-ideológica é explicitada, nas discussões preparatórias do 2º Encontro Nacional de Coordenadores e no conjunto didático "Viver é lutar"; quando o MEB é aceito, após o 1º Encontro Nacional de alfabetização e Cultura Popular, como um dos movimentos de cultura popular; quando sua experiência começa a ser conhecida internacionalmente, disputando inclusive, em termos de prestígio, com a Acción Cultural Popular — ACPO, da Colômbia, experiência pioneira que serviu como matriz dos sistemas radio educativos brasileiros; e quando o MEB se articula com o Sistema Paulo Freire para um trabalho de alfabetização de adultos em meio rural, com monitores camponeses, começam as primeiras e violentas reações dos fazendeiros contra o apoio dado aos sindicatos; as pressões do próprio clero o interior à linha dada aos programas radiofônicos de conscientização e aos treinamentos de politização; parte da edição do livro de leitura "Viver é Lutar" é apreendida pela polícia do Estado da Guanabara, no Rio de Janeiro, e o então governador Carlos Lacerda se vale desse fato para lançar violenta campanha contra "bispos progressistas". A repressão que se faz sentir desde os primeiros dias, após o Golpe Militar, abril de 1964, com invasão e depredação de vários escritórios nos Estados, prisões do pessoal e sobretudo pressões sobre os monitores das escolas radiofônicas e líderes dos sindicatos rurais, é apenas uma face — a mais dura certamente — de uma crise que é simultaneamente política, no seu aspecto externo; ideológica, no seu aspecto interno, nas relações das Coordenações de Movimento com a Hierarquia e com outros grupos católicos; e financeira, pelo bloqueio das verbas governamentais e pela suspensão dos convênios.

Na defesa do MEB e em sua própria defesa, frente à crise política, e nas tentativas de superação da crise financeira, os bispos do CDN aguçam a crise ideológica. Em contrapartida, os dirigentes leigos aprofundam e reafirmam o essencial do Movimento, em termos da natureza de suas relações com a Igreja; da essência de sua tarefa educativa; de seu compromisso último com a promoção popular e da necessária unidade nacional, seriamente ameaçada naquele momento (MEB: sua origem, sua ação seu conteúdo, 1965).

A aprovação de novas normas e diretrizes para o funcionamento do MEB, pelo Conselho Diretor Nacional, em agosto de 1964, representa um retrocesso. Mesmo assim, superadas as dificuldades maiores de verbas, com a assinatura de novo convênio com o MEC, as equipes retomam com afinco o trabalho, revigorando as escolas radiofônicas, agora na perspectiva mais ampla da animação popular — entendida como "um processo de estruturação da comunidade e organização de grupos, progressivamente assumida por seus próprios membros, a partir de seus elementos de liderança" (MEB em cinco anos, 1966).

Apesar das pressões exteriores e as contradições internas, o ano de 1965 é bastante produtivo, inclusive com a elaboração de original programa para as escolas radiofônicas e o correspondente "Conjunto Didático Mutirão". Mas 1966 é novamente um ano de intensa crise, principalmente pelas imposições do MEC para a renovação do convênio, aceitas pela CNBB, e pela situação no campo. A impossibilidade de continuar um trabalho conseqüente na maioria dos estados, pelas pressões sofridas e pela insegurança das verbas, assim como a quase inevitabilidade da subordinação do MEB às instâncias governamentais e aos bispos mais conservadores da CNBB, acarretam o afastamento de muitos coordenadores nacionais e o fechamento dos maiores sistemas estaduais, ao final de 1966 (Bahia, Alagoas, Pernambuco, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso).

Embora definido inicialmente como um programa de cinco anos, e apesar das crises o MEB continua até hoje. Por questões metodológicas, consideramos como 1ª fase de seus trabalhos o período 1961-66, que corresponde ao deslanchar das ações iniciais (1961/62), à montagem dos grandes sistemas do Nordeste, Amazonas e Centro-Oeste, inclusive Minas Gerais; a expansão das escolas radiofônicas e dos trabalhos de assessoria direta às comunidades e grupos, principalmente através dos sindicatos rurais e depois da animação popular; às crises político-ideológico-financeira; até o fechamento de vários grandes sistemas estaduais. Há, nesta primeira fase, uma mesma linha de ação que a caracteriza e garante a unidade e a expressão nacional do Movimento.

Alguns números exprimem a abrangência e o atendimento prestado pelo MEB às populações rurais, nesses primeiros cinco anos de efetivo funcionamento. Ao final de 1963 e início de 1964, era a seguinte a abrangência do MEB: 1) O trabalho era realizado em 14 Estados e um Território: Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Rondônia; 2) Nsses Estados e Território existiam 58 Sistemas de Educação de Base e igual número de Equipes Locais, atingindo cerca de 500 municípios, número esse que caiu para 51, em 1965, e para 45, em 1966, reduzindo-se a 22 em 1967; 3) As Equipes Locais chegaram a reunir acerca de 500 pessoas, nos quadros administrativo e técnico, inclusive supervisores municipais. Por sua vez, a Coordenação Nacional, com sede no Rio de Janeiro, chegou a contar com 50 pessoas, quase todas em tempo integral; 4) O número de escolas radiofônicas variou de 2.687, em 1961, ao máximo de 7.350, em setembro de 1963. A ampliação do horário de "A Voz do Brasil" de 30 para 60 minutos, em meados de 1963, comprometeu o melhor horário para as aulas e ocasionou uma queda brusca no número de escolas: 5.570 em dezembro de 1963. Em março de 1964, no entanto, eram novamente 6.200 e, apesar de todas as crises, em dezembro de 1965 ainda funcionavam cerca de 4.500 escolas radiofônicas; 5) De 1961 a 1966, mais de 400 mil alunos concluíram os cursos básicos do MEB, em duas ou três fases; por sua vez, estimava-se que de 5 a 8 milhões de pessoas eram direta ou indiretamente atingidas pelas 29 emissoras que irradiavam programas e aulas; 6) Nesse mesmo período, foram realizados 38 treinamentos para 900 professores, supervisores e animadores das Equipes Locais, numa média de 10 dias para treinamento; foram realizados ainda 518 treinamentos para cerca de 13.770 monitores de escolas e animadores de grupos, com duração média de 4 dias por treinamento, até o final de 1965.

Por outro lado, consideramos como 2ª fase, aquela compreendida no período1967/71. Mesmo que os sistemas radiofônicos remanescentes (Sergipe, Rio Grande do Norte, Pará e Amazonas) tenham sido obrigados a regredir a uma forma tardia de educação fundamental, nesta segunda fase procura-se manter o essencial do Movimento. Há reflexões e aprofundamentos bastante amadurecidos sobre o modelo pedagógico, assim como sistematizações originais quanto ao trabalho com grupos. Também são muito importantes as tentativas de regionalização dos sistemas, no Norte e no Nordeste, com programação e elaboração do material didático específico para cada Estado. A partir de 1972, no entanto, ano base de uma 3ª fase, o Movimento tornou-se praticamente uma linha auxiliar do MEC, através do Ensino Supletivo (MEB, Relatório Anual de 1972).

Do ponto de vista da conjuntura interna da instituição, a 2ª fase é demarcada por crises. Os anos1966/67 foram vividos sob grave crise financeira; as negociações com a Presidência da República e com o MEC, iniciadas em início de 1966, estenderam-se até meados de 1967, quando novos recursos foram liberados. Essa demora na liberação de verbas, concedidas sob pressões e aceitas como recursos da CNBB, no entanto, provocou danos profundos, tais como: desmoronamento das equipes, fechamento de vários sistemas (como já foi referido, os maiores encerraram suas atividades ao final de 1966/início de 1967; o MEB/Maranhão fechou em junho de 1967). A recomposição do Secretariado Nacional e de vários Sistemas Locais só começou a ocorrer ao final de 1967, e foi realizado durante todo o ano de 1968. Nessa fase, solidificou-se o controle exercido pelos Bispos sobre o Movimento. Em decorrência, a formulação da nova linha de ação pela recém-constituída Equipe Técnica Nacional foi determinada por fatores conjunturais tanto internos quanto externos. No clima de suspeição e repressão gerado pela promulgação do AI-5, ao final de 1968, os Bispos insistiam e pressionavam no sentido da ênfase na alfabetização e na evangelização das camadas populares atingidas pelo MEB. Isto era reforçado também pela nova realidade geográfica do Movimento: a Amazônia começava a impor-se como “bloco representativo”.

Diante dessas novas condições de trabalho, o caminho encontrado pela Equipe Técnica Nacional foi a implementação de uma proposta respaldada na tecnificação do trabalho educativo. Na prática, essa proposta traduziu-se inicialmente no estudo, tradução ou adaptação e divulgação de textos de autores estrangeiros, nas áreas de Psicologia (Piaget, Kurt Lewin), Sociologia do Desenvolvimento (A. Gunder Frank), Educação (C. Rogers, P. Furter), etc. Os treinamentos, o trabalho de assessoria e os textos preparados para os sistemas de base procuravam formar as Equipes dentro de nova perspectiva; expressões como "grupalização", "dinâmica de grupo", "treinamento em situação" começaram a integrar o vocabulário utilizado pelo Movimento.

Do ponto de vista da proposta de trabalho, a nível da Direção Nacional, o MEB dessa 2ª fase apresenta-se assim com uma formação distinta daquela identificada na 1ª. O amadurecimento técnico adquirido em 1968/69, principalmente a elaboração de propostas de captação de recursos junto a agências externas, ligadas à Igreja Católica, levou ao MEB a tentar sobreviver da venda de serviços. Essa iniciativa, tomada no momento em que se anunciava outra grave crise financeira, caracterizou-se pela reestruturação do Movimento à base de projetos e culminou com a contratação de um engenheiro de sistemas, cuja tarefa foi organizar o produto oferecido de maneira a poder melhor vendê-lo. Algumas tentativas nessa direção chegaram a ser efetivadas com relativo sucesso (por exemplo, a realização de uma série de cursos para os professores do Ensino Supletivo do Colégio Santo Inácio).

Mantendo-se com poucas alterações até 1971, a Equipe Técnica conseguiu redinamizar o trabalho, quanto lhe foi possível, em novas bases. No entanto, em setembro de 1971, após mudanças na direção da CNBB e substituições verificadas no Conselho Diretor Nacional do MEB e principalmente na sua Presidência e Secretaria Executiva, que resultaram na demissão simultânea de praticamente toda Equipe Técnica, esse empenho foi frustrado. As tarefas em execução não só foram interrompidas, como os documentos dispersaram-se. Por isto, a importância de refazer a memória dessa fase, localizando as reflexões e as sistematizações sobre a prática; e a redefinição das atividades-fim, que configuram um novo modelo pedagógico ou que buscam a revitalização de experiências anteriores, com o uso do rádio para a educação e apresentam originais propostas de treinamento e sofisticados instrumentos de acompanhamento e avaliação dos mesmos, entre outros aspectos.

PROGRAMA DE ESTUDOS E DOCUMENTAÇÃO
EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Autor: Professor Osmar Fávero